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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Vinte e oito não

Eu não sei direito qual o lance, não. Não vou querer explicar a parte que eu sei. To meio farta também. De explicar. De explicar não o que você não tem condições de saber, mas o que você já deveria ter sacado nesses aninhos de experiência na Terra. Não sei quanto tempo cê passou em outros planetas e o que eles priorizavam lá. Aqui nesse planeta também não está fácil de sacar o que a galera prioriza. Mas eu. Poxa, cê já tinha condições de sacar o que eu priorizo. Numa troca diária (relação) como a nossa. Mas. Sei. Lá. Cê preferiu desacar. E, bem, cê acabou comigo mesmo. Em palavras fáceis. Hoje quando eu precisei te olhar, eu não pude. Não dava. Parecia que a sua cara não era coisa de se olhar. O cheiro que vinha de você me atiçava, me chamava, me clamava, mas tudo em mim dizia não. Minhas mãos doíam de tanto segurar os toques loucos de tocar você. Quando cê chegou perto. Velho. Deus sabe que quando cê chegou perto meu corpo inteiro parou pra me deixar beijar sua boca em paz. Mas tudo em mim dizia não. E dizia tanto e dizia tão bem e tão alto e tão claro num timbre tão certo que era isso. Acho que esse não, na verdade, era apenas o barulho dos caquinhos quicando no chão e ecoando pelos dias até aqui. Do meu coração os caquinhos. Doeu rude. Cara. Adicione mais dor e despeje aquele pote inteirinho de fermento e não vai crescer o tamanho da dor que me deu. Não te odiei, não. Nem a mim. Nem a ninguém, antes que se suscite. Foi só dor, sabe? Igual aquela dor de barriga que você não sabe a que atribuir já que vinha comendo tudo certo e nada de diferente. É. Às vezes é bagulho de outro dia. Que só foi fazer efeito aquela hora. A gente sabe que não tem a quem culpar. Mas dói. E, mesmo que não haja culpa, responsabilidade ainda há de haver. E foi isso. Deu um desânimo. Um negócio ruim no peito. Uma emoção tola de se culpar coberta de uma verdade suficiente de a culpa não foi sua. Exceto em insistir. Uma mistura de é pra isso que servem as ilhas com sou tão teimosa as placas avisaram. Sei lá, minha parça. Não tenho saldo pra hoje. Só que estamos aí já de quota gasta. Não é que não tem suporte pra merda, pra problema. É que pra uns e outros desacertos a meta já foi, oh, um sem-número-de-fucking-vezes batida.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Passagens

Parada nos semáforos, pelo cruzamento à frente, vejo carros que passam para os dois sentidos.
Fico pensando que esta música não combina com este momento, mas também não posso passar.
Quando o vermelho troca com o verde, o vento invade mais indelicado pela janela e chacoalha meus cabelos para cima. Poetas, se apaixonados, diriam que dançam. Eu não sou poeta hoje.
Encaro atentamente o horizonte buscando qualquer coisa para a qual sempre olhei, mas nunca vi.
Quero ter olhos novos. Ou apenas coisas novas para olhar. Algo que me atrase o sono por um ou cinco minutos. Que me dê sonhos bons. Algo que me importe quando eu passar.

Da minha última viagem

Definitivamente, Amanda, não tem ninguém competindo o Troféu Brisa com você além de você mesma. Porque, pelo amor de Deus, contando ninguém acredita.
Começo a desconfiar que você está levando a sério demais essa coisa de universo paralelo. E, mesmo assim, tudo ainda seria okay se você não o visitasse no meio da tarde, de uma conversa importante ou, apenas e tão somente, ao fazer outras atividades que, diga-se, deveriam ser consideradas de uso cerebral prescindível como locomover-se entre estações de metrô.
Mas. Né. Não.
Não com nossa favorita. Que que isso.
Você ficou todos esses anos idealizando um teletransporte e daqui estou achando que não era mera idealização. Você o desenvolveu, seguramente. Porque, afinal, que explicação se dá para o poder locomotor que se dá para imagens de um passado recente que, escandaliza-se, arremessa-te a quaisquer muito boas lembranças a ponto do desligamento com o mundo concreto e tangível tornar-se regra em tais circunstâncias?
É. No mínimo, preocupante.
Sorte a nossa a sua previdência te salvar das suas presepadas. Muito embora, não tivesse feito qualquer viagem, a uma hora dessas já estaria para onde ainda está indo.
Tsc tsc.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Acesso nº 3.453.001

Bem vinda, então.

Agora você está aqui dentro.
Está em mim, comigo, onde vou e quando fico. De formas e jeitos tantos que talvez não seja possível contar. E nem numerar. 
Mas é importante que você saiba. O lance aquariano das coisas. Saber. 

Quero te contar o que você já sabe. Que está andando por aqui. Andando, risos. Cê corre, cê pula, pega impulso lá de atrás e vem escorregando de meias. 

Ali do sofá, eu fico lendo minha revista enquanto te olho pelo canto dos olhos. Acho que no fundo estou torcendo pra você se desequilibrar e cair em cima de mim.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Deixa eu bagunçar você?



A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar

A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar

A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar

Peguei até o que era mais normal de nós
E coube tudo na malinha de mão do meu coração
Peguei até o que era mais normal de nós
E coube tudo na malinha de mão do meu coração

A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar

A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar

Peguei até o que era mais normal de nós
E coube tudo na malinha de mão do meu coração
Peguei até o que era mais normal de nós
E coube tudo na malinha de mão do meu coração

Deixa eu bagunçar você, deixa eu bagunçar você
Deixa eu bagunçar você, deixa eu bagunçar você
A gente fica mordido, não fica?

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Ruas e calçadas

Ando pelo Rio.

– É. Rio de Janeiro –
Sorrateira e repentinamente: você está ali.

Atravesso ruas pensando em você.
Pareço cabisbaixa quando caminho calçadas pensando em você.
Do sofá-cama do apartamento de tamanho suficiente pra você estar fazendo falta, te desejo silenciosamente a ponto de nem eu mesma me escutar.
O som que evade das cordas do violinista no parque só não te suplica mais que as palavras que eu não disse.

Eis que quando te vejo: tudo explode.

Desmancho em alguns pedaços. E meu repouso é sobre você.
Descanso da distância, dos duros e frios quilômetros cinzas que jamais me permitiriam te materializar nas ruas e calçadas do Rio.

Quando me dou por mim, estou engolindo você pela respiração.
Numa sofreguidão tão profunda e aparentemente desarrazoada que, bem, só me resta averiguar a quantas bate meu coração.

Como te desejo.
Como te amo.
Parece até.
Que.
Em mim só há você.

Sua presença de repente acerta tudo.
E me faz rir e gargalhar como se houvesse ali o que de melhor existe para o deleite.
Pois bem. Parece-me muito que há.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Acolhimento (na íntegra)

Quando este blog surgiu, eu procurava divulgar as atualizações de algum modo: para os amigos, exibindo o link em alguma rede social ou despretensiosamente numa conversa de MSN. 
Agora não faço mais nada disso.
Significa que o mais provável é que eu venha sendo minha única leitora pelos últimos meses. 
De todo modo, eu acredito que, quando se escreve algo e se dá publicidade a isso, a menor que seja, essa publicação emana a energia do que foi escrito ali para o mundo exterior. E energia é aquilo que a gente já sabe: corre o universo se transformando daqui para lá até voltar à origem em alguma forma distorcida, não reconhecível, porém correspondente.

**

Há algumas semanas, eu escrevi, sendo bastante sucinta, algo sobre como a forma de amar das pessoas me parecia egoísta. Bem. Eu não estava legal. 
Entretanto, há alguns dias, eu fui me encontrar com um amigo que, como a maioria das pessoas que vinha me amando [da mencionada maneira], é mais velho e, não necessariamente por isso, recai sobre a fatal tendência de ter algumas opiniões mais conservadoras ou tradicionais ou, tão somente, políticas de guerra fria, boa vizinhança  e nem preciso dizer que tais não me apetecem. Invariavelmente, sobrepõem a culpa na vítima e aconselham que não se exponha, que se preserve, que previna a agressão com qualquer comportamento no qual se torne prisioneira de si própria.
Sem novas delongas: a conversa foi extremamente acalentadora! Eu, talvez na defensiva, imaginei que soubesse tudo que ele fosse me dizer. Mas fui surpreendida por um discurso completamente acolhedor. Que, por outro lado e tanto melhor, não deixou qualquer firmeza de fora. 
Eu que já não estava mais tão chateada com a forma de amar das pessoas e tentava retomar a postura de aceitar que as pessoas dão somente o que têm pra dar, fui desta vez totalmente desarmada.
Existem, sim, pessoas que amam com olhos capazes de ver além de suas próprias perspectivas e não se acovardam diante de lutas injustas mesmo que estas não se dirijam a elas. 
É como quero ser. É como quero amar. Porque, eu posso garantir, faz toda a diferença ser amada assim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Irracionais Anônimos

– Oi, meu nome é Amanda. Eu tenho vinte e dois. E sou uma flertadora compulsiva. Desde muito cedo eu sou assim. Me apaixonei pelas palavras e depois não consegui parar de querer saber aonde elas levam, o que elas trazem, quem afastam, quem atraem.
E tem uma coisa sobre as palavras: os seres humanos estão, há esses séculos todos, tentando usá-las para explicar o amor.
Acho um tanto quanto ousado e ambicioso. E digo isso num tom bastante desacreditado. É, digo, sim.
Eu cresci ao som de músicas que se propunham a cantar o amor. E eu ouvi grandes poetas dizerem que não era possível explicar.
Camões veio avisar e Manfredini replicou toda a contradição do amor. A revisão final suprimiu o derradeiro e de arrebate verso que dizia algo sobre que coisa maluca incompreensível irracional és o amor, Maria.
E eu vim até aqui ouvindo  porém não escutando – os caras. Todas as vezes em que o nome do nocaute era o verbo apaixonar, eu me debruçava sobre aquela chama e queimava o papel com as minhas palavras destinadas a expressar o que era sentir aquilo vazando quente por entre meus poros. E podia dar, meus senhores, detalhes esculpidos.
Amar tem sido um sentimento tão concreto que eu pareci poder ver seus detalhes e traços. Como se nestas vezes todas eu pudesse encarar sua face e completar as peças mais delicadas da figura com o toque. De maneira que não restava sob o céu nada quanto ao meu amor que eu não pudesse dizer e redizer. Explicar e fazer entender.
Perceba: a facilidade de descrever uma foto. Estática imagem, cores seguras e fixas naquela eternidade reprimida no espaço de um momento que passou.
E lá no fundo a vozinha dos poetas clássicos me sussurrava que amor não padece de ter explicação.
Eventualmente, devo ter me sentido foda.
E segui ignorando os parças.
Bem, meus senhores, eis que a poesia virou conto. Acredito que virou, pelo menos, desde que apareceu essa princesa.
Apta a se destacar da mais distinta nobreza que você puder localizar no espaço da história da humanidade. Digo isso porque ela veio subverter tudo. Inaugurando uma dinastia própria.
Não me pergunte o que é o amor sob pena de ouvir uma resposta que muito se parece com o silêncio.
Mas, veja bem, parece-se com. Não o é.
Se puder localizar meus olhos ou descobrir em que direção olham – por vezes para dentro, para alguma coisa dela que do lado de dentro estou tentando guardar –, bem, se você puder fazer isso;
Se puder notar a descida do tom da minha ligeiramente grave voz. Se puder ir conhecer os caminhos por onde andam meus sonhos. Se puder se sentar sobre mim e penetrar a integridade do meu ser e me desvendar como numa possessão, vai perceber que eu não sei do que se trata a porra toda.
Talvez se, ao fazer tudo isso, você não entender nada, acredito que vou pensar que você conseguiu ter entendido.
Este amor como o dos poetas. Que se explica muito mal. E que está vez atrás de vez tentando se re-explicar mais e melhor.
Ela me tomou a convicção do poder de usar o que? As palavras. O poder de usar as palavras para trazer ao mundo tangível aquilo que não se vê, não se cheira. Tão somente se sente em lugares que, fisiologicamente, nem existem pra sentir! Você faz alguma ideia de como isso me pira?
Tomou-me a comodidade do amor pensado.  Do amor entendido. Do amor domesticado que, muito embora seja de saber seguir em chamas, não surpreende com a escolha dos caminhos que incendeia.
Mas ela. Você veja se consegue entender o que eu não sou ainda capaz de explicar. Ela, lá de longe, vai me puxando contra si própria. Eu sei lá se não é se feitiço. Porque, de fato, com meus cinco sentidos racionais não posso compreender como é que ela faz.
Como é que me fez(az) ignorar o que é de se ver em nome do que é, apenas e tão somente, de se desejar. Desejo que arrasta COMO SE inexistisse qualquer obstáculo. Mas como se existisse, ao menos, uma força invisível, laçada em mim, ligada nela, que me arrasta lenta gradativa e inexoravelmente em sua direção. Fazendo-me constantemente querer encostar.
Acredito que, se esse conto se passasse na inquisição, seu destino era queimar, não no meu amor, mas numa dessas enfadonhas fogueiras dos cinco sentidos por aí. 

L i s t e n i n g 
Monte Castelo - Legião Urbana

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Destinatário eu

É assim que pessoas grandes surgem, não é? Quando alguém é bom ou forte ou tem qualquer qualidade fundada na fibra, como é que se faz pra descobrir esse suposto potencial mesmo? É. Você testa essa pessoa. Você a desafia pelo viés das virtudes. Provocando a atuação da fraqueza proporcionalmente oposta à força que você quer ver se floresce.
Assim são as oportunidades para sermos melhores. Parecem-se com chances perfeitas para desistir e fraquejar. Tentar amanhã depois de escolher não insistir hoje.
O que eu quero dizer: ninguém é grande onde tudo é fácil. Você não aumenta sua resistência, não desenvolve resiliência, não exercita a homeostase do seu corpo sem tomar chuvas com rajadas frias de vento que vão querer adoecer você.
É quando o imprevisível se realiza que cai do céu a oportunidade de ser alguém melhor. Quando, meu Deus, o cenário muda repentinamente e você não tem um escudo sequer, a única arma pra enfrentar o que for é você.
Reinvente-se. Seja melhor. Supere seu eu do dia anterior quando tudo era azul e, portanto, fácil ser bom.
Aguarde sem ansiedade o desfecho das agruras.
Você precisa saber que, ao final de tudo, isso se trata de você. Sobre como você lida quando não sabe lidar.
Não abaixe a cabeça, lembre-se que não é uma oportunidade pra desandar tudo de uma vez.
É, porém, talvez, a única ou última oportunidade de saber do que você é feito. Se a carne e o sangue quente que corre em você te fazem de ferro duro.
Você não está aqui a passeio. Seja o seu melhor dessa vez. Isso aí com cara de desgraça é o que você queria pra poder fazer, ser e ter: mais.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Repeat

- Estou me sentindo num carrossel. Estou vivendo um movimento cíclico de altos picos de desejos sobre você. Parece que eu quero estar um pouco bêbada. Mas sinto como se já estivesse, no mínimo, alta. Minha cabeça tá pensando tudo com um filtro de saturação de imagem elevado. Como se estivesse tudo tão quente. Estou sendo sinestésica até. Eu acho que poderia tirar sua roupa e te beijar toda. Num ritmo que eu não sei explicar qual é

E eu fico colocando essa música pra tocar. O cantor está gritando comigo. Mas é comigo feito junto, entende? Estamos suplicando qualquer coisa juntos. Sentindo algo muito forte juntos. E então ele diz algo que eu quero concordar sobre como tudo está on fire. Fucking Jesus Christ como está.

A voz dele me aperta de dentro pra fora. Coisa absurda. Parece que eu vou implodir de ficar querendo você.

Eu já te quis hoje tantas vezes. Sabe? Como se cada vez fosse um querer um desejo separado distinto e autônomo? E isso faz de cada um deles muito mais forte. Porque eles se unem. Eles te querem. Quem te quer assim sou eu.

Estou louca. Porque, quando a música acaba, o silêncio é perturbador. Quero gritar com o cantor mais vezes sobre como te quero. Sobre como estão as coisas on fire e queimando. 

Caralho. Como é bom quando arde.


L i s t e n i n g 
Kings of Leon - Sex on fire

domingo, 30 de agosto de 2015

(O que sobrou de) Isolamento

Ninguém está realmente acompanhado, sabe? 
No final do dia, você vai se deitar sozinho, do que importa que esteja acompanhado. As pessoas podem te amar, te ouvir e segurar sua mão. Podem até presenciar suas lágrimas com ternura

[...] mas estaremos sempre 

fadados a viver no isolamento que é ser. Talvez, no final das contas, seja isso mesmo. Cada um ama a seu modo e isso não significa colocar o bem do outro em primeiro lugar. As pessoas querem se preservar. Não vão segurar em armas por guerras que não lhes pertencem. Não importa que a sós elas te apoiem. Altruísmo demais nem cheira porque decerto que também não existe. As pessoas vão, mecanicamente, se indignar quando, chorando, você contar dos últimos feitos dos seus algozes, mas elas nunca vão se colocar entre você e eles e dizer: cara, pare. É isso. No final, ter uma opinião menos intolerante não te faz ser alguém que promove ou festeja a inclusão. Mas ok. Isso já te faz pesar menos a cabeça na hora de dormir, não é?


Apparently, the world is not a wish granting factory. GREEN, John. The fault in our stars

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Futuro do Pretérito (composto)

Não tive pressa. Às vezes, preciso lembrar que ainda não a tenho, inclusive. O que eu tenho: vontade. E além: querer. Mas em alguns momentos eu fico me perguntando o que teria sido se você tivesse chegado antes. Se estivesse aqui quando aquele filme estreou. Ou se tivesse chegado duas semanas antes daquele espetáculo sair de cartaz. Se estivesse aqui quando meus tios se casaram. Se teríamos viajado, quando a meta era sair. E pra onde teria sido. De quantas coisas teria sido você a primeira a saber? Quantas despedidas de nunca adeus entrariam na contabilidade? Faríamos nada juntas por muitas tardes ou, pelo menos, pelas que tivéssemos para assim nada fazer? Você já conheceria as coisas que estou me esquecendo de apresentar? Já teríamos ficado bêbadas? 
Teria sido você no lugar de ninguém já que, então, o lugar seria seu.
Não, acadêmicos do saber! Não é um texto de lamentação, saudosismo e correção de memórias. Só não posso deixar de imaginar o que teria sido se tivesse sido você. Naquele filme, naquele espetáculo, naquela viagem e no casamento.
É árduo dizer de modo que não pareça que eu estou te desejando lá atrás e pinçando para fora quem lá esteve. Acontece que não é disso que se trata. É mero exercício filosófico. Estou me perguntando o que teria sido.
Sem deixar de acreditar que o melhor tempo é aquele em que as coisas acontecem. Fazendo, assim, do seu o mais certo que poderia ter sido já que lá atrás nunca poderia ter sido você.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Algumas tantas

Olhos pesados. 
Pernas moles. 
Coração assumindo a forma líquida - algumas tantas vezes por dia - pra ficar mais fácil de levar. 
Fecho os olhos pra pensar em você: eles não querem voltar. 
Suspirei algumas tantas vezes (só não conto quantas porque demorei a perceber). 
Respiração ofegante. Deve ser a falta de respirar você. 
Ouço meu riso. Quero teu gosto. Vou distribuir alguns beijos pelo teu pescoço!
Enquanto seu cheiro me orienta por onde quero ir, faço algum esforço pra lembrar porque tanto resistir. 
Há silêncio. Há calor. Tantas coisas outras não feitas pra se enxergar. Como o amor. 

domingo, 24 de maio de 2015

Tú me acostumbraste

Tú me acostumbraste a todas esas cosas
Y tú me enseñaste que son maravillosas 

Sutil llegaste a mi como una tentácion 
Llenando de inquietud mi corazón

Yo no concebia como se queria 
En tu mundo raro y por ti aprendí
Por eso me pregunto al ver que me olvidaste
Porque no me enseñaste como se vive sin ti

(Frank Domínguez) Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_D4GLQ3vOhg

Aqueles dois 
(Caio Fernando Abreu) Disponível em http://www.releituras.com/caioabreu_dois.asp


terça-feira, 19 de maio de 2015

Feira livre

Atravessei o portão, contando com a sorte.
O carrinho na mão é de pequeno porte.

Quem sabe quanto é preciso pra fazer sentir feliz?
Poucas vezes o nada é mais do que aquilo que se diz.

A feira é livre. Meu amor também quer ser.
Quer gritar a altos timbres que é inútil não querer.

Por tanto não querer é que inflama.
Portanto, se aquieta, aceita, ama.

Atravessei a rua, as pessoas, desviei.
A música no play era sua. Deixei.

Que rumo, que pressa, que destino, que vil.
Sem jeito, é tarefa, não é castigo. Mentiu.

Mas se ela vai, muda tudo.
Se ela for, acha o rumo.

Volto à feira, agora não tão livre.
Moça, você está muito na beira: não pire.

Eu vou comprar morangos pra ela! Me deixe ir lá.
- São os mofados que me lembram você. Mas não são os que vou levar.

Na geladeira guardei. Na geladeira esqueci.

Bobeira. Não levei.

Canseira. Só andei.

Atravessei a linha, passei dos limites: parei de pensar.
Ela sambou neles. Ao som da própria voz, me fez dançar.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

reformulação


re.for.mu.la.ção
sf (reformular+ação) Ação de reformular

reformular
re.for.mu.lar
(re+formular) vtd Formular outra vez; propor em novas bases.

Das vezes que quase quero me sentir bipolar. Mas estou muito ocupada em me sentir bem melhor.
 
Abraçaço. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Poda de flores

Você é um tom confuso. Ou uma melodia boa encarcerada numa escolha arrítmica de palavras; porque às vezes você deixa um prolapso entre elas.
Você tem uma levada boa. E me faz querer te ouvir até o final. Mas às vezes acho que vai parar a toa. E talvez isso explique porque abrevio uma coisinha ou outra.
Você trava. E daqui eu vejo: é por isso que causa o mesmo efeito em mim. O que mais poderia haver de explicação pra você me deixar assim?
Você faz caminhos próprios. Personalizados. E isso por si já me impediria de entender. Como nas vezes nas quais você não me entende. Como nas vezes nas quais me esforço pra não te ver.

Então, eu deveria preencher o espaço com novidades. Com a maneira como tudo sobre você é desejado por mim. E que erro, meu Deus, que erro é me autorizar a falar de você aqui.

Jardineiros podam árvores e flores. Os caras sabem o que estão fazendo. Nunca vi ninguém se jogar na frente e tentar impedir. Porque, quando a primavera chegar, tudo ali estará replicado em frutos e em mais flores. Mal fará sentido dizer que algo, alguma vez, foi cortado.

Será que é só mais um atestado? De incapacidade, estrita loucura ou de morte? Quem sabe os três, se eu for alguém da mínima sorte.

O que eu deveria: te chamar de todos os nomes que desceram seco até aqui – inclusive, amor? (Podemos tirar, se achar melhor)
O que, com algum bom senso – o mesmo que te acuso de não ter –, eu faria: meia volta, marcha ré, voltar 35 (sic) casas, desligar, fingir, esquecer. Sair. Sumir. Não ficar.
E o que vou fazer: qualquer coisa que te empodere mais ainda de mim e me foda no final.

– ÓBVIO QUE SIM. Palmas! Porque é isso que você é, Amanda da Mata, uma tradução de estupidez. Uma contradição entre repressão e liberdade. Condicionantes e entrega. E, bem, sejamos honestos, então: talvez você se trave sozinha. Talvez você complique mesmo as coisas. Talvez você se detone toda no chão no final por suas próprias mãos. Quem aperta esse gatilho TODAS AS VEZES é você. E esse disparo não é lá no fim, como você bem pode desconfiar. Essa porra desse gatilho você detona em momentos como esse aqui: quando autoriza, quando QUER querer o que não deve, o que não pode, o que está na frente da sua cara patética que não é pra você. Porque você não aceita NADA, exceto sua própria teimosia. Você pede, você clama por algo que arda e te dê o que pensar e que te dê motivos pra viver, porque existe alguma dose cavalar de irracionalidade em você que te fez acreditar que isso é viver. Bom. Tenho uma novidade pra você: você só é otária mesmo.

– Não é que tenho medo, sabe? Porque medo a gente tem daquilo que não conhece ou quando mensura a possibilidade nada remota de algo dar bem errado. E não é isso. Porque não se tratam mais de conjecturas. Eu SEI, com toda carga aquariana e de responsabilização que dizer isso faz recair sobre mim, que VAI dar errado. Ou só não dar certo. (Afinal, o que é dar errado mesmo? E, quando já nasce errado, dar certo ainda é bom ou é dando errado que se acerta as coisas?)

Meu niilismo quase me incomoda.

Mas já sabemos sobre o "quase".

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pra você dar o nome

Tomara que uma hora dessas você passe aqui. E descubra não o resto, foda-se ele, mas descubra esse aqui. Esse aqui. Que muito embora não vá ganhar seu nome, é tão seu quanto.

A parte boa, dentro dessa bagunçaida toda (como diria minha vó) é alguma dessas coisas que eu não sei ainda dizer qual é.
Não leve a mal. E eu não levo você.

Não tem problema eu não saber que pasa contígo enquanto eu mesma não souber o que acontece comigo. A recíproca procede. E do que se trata você e eu? 
- Como se estivéssemos nos importando mesmo com isso. Porque até agora nada dependeu dessa resposta, dependeu?

A parte boa? A parte boa é que tem várias músicas que fazem o trabalho nada árduo de me lembrar você. Coloco aqui de volta pra tocar. E onde você já estava lá está você de novo (ainda?).

Às vezes - sempre uso 'às vezes', mas nem sempre é isso - acho que você está louca. Que perdeu a cabeça ou ganhou qualquer coisa com a qual não sabe lidar. Mas você não sabe de nada disso, sabe? Significa que, na eventualidade de dar merda, serei juridicamente obrigada a te perdoar. A te relevar.  Fucking responsa (mine! in the case).


Spending more time listening you in other voices.


Só que às vezes eu não quero ouvir nada. E tem vezes que nem o som da sua voz. Porque eu sei que tem mais coisa vindo de você. 


E eu gosto.