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terça-feira, 30 de novembro de 2021

None

Something has broken inside me and I don't know how to fix it. I didn't hear the sound of this crashing on the ground. But I feel the missing of it every day of my life since then. I dont know the name. I dont know where it was before. I dont know if it is going better and if I am just be impatient. I just dont feel myself as the same person I was before. Something broken inside of me and now I am a different person. A unperson person. I dont feel joy. I dont feel blessing. I dont feel real gratitude for being alive. I just feel wrong. Everything I do I do wrong. Even when I am doing right it will be the wrong thing to do. So, now I know, the world is the real hell. The world is a terrible place. Maybe the most terrible place. I dont fit in here. And I dont belong anywhere. I just was left here. Like a piece of trash. No one seems to care enough while I love everybody the most. It sounds ridiculous. And it is, for real. I dont want anything of this anymore. I’d want to stand frozen in the same place, just staring the end coming to me. I am not saying I will cause a sooner end. I wont, I swear. But I dont have any desire anymore, to fight, to go out, to dare the odds. I know all the results for me. They are all a big and loudly NO. And its ok. I wont fight anymore. I dont have a heart to allow me do that anyway. Its broken. And I dont know how to fix it.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Vida

Eu bati a porta como quem sai furioso. Não sabia quando a veria de novo. E minha fúria era propriamente esta. Como seguiria a vida vivendo a milhares de quilômetros da minha? Não sei. 

O estampido da porta batendo como o tiro que dilacerou a última linha do nosso laço ficou ressoando enquanto eu caminhava para longe.

Depois disso, tudo pareceu correr numa velocidade estranha. Eu, como mero espectador da minha própria vida, me vi pegando mala, itens pessoais de valor sentimental e transportando tudo pra outro continente. O adeus à porta do táxi buzinando, o aeroporto ficando maior enquanto eu deixava tudo para trás, o ar condicionado gelado do avião, as horas intermináveis de voo em que dormi e acordei repetidas vezes como que dentro de um pesadelo. Por fim, cheguei.

O clima era agradável, ok. E, a princípio, não tive chances de continuar expectando minha vida como que de fora, porque precisava interagir. Um rosto familiar – malemá conhecido – emergiu por meio da multidão que aguardava o desembarque dos voos internacionais; e era como se me visse de cima. Para mim, foi mesmo como não ver ninguém. Como uma pessoa poderia ser alguém se a vida tinha ficado para trás? Acenei de cabeça, sorrindo automático. Até hoje não estou bem certo de que não revirei os olhos inevitavelmente por de trás dos óculos escuros.

Daí tudo se passou tão rápido como a vida costuma ser quando você não a está vivendo em presença. Organizei minha vida do dia para a noite. Literalmente, porque o primeiro dia era logo o seguinte.

Naturalmente, não me cabe objetar suas questões de agora sobre minha realização e como tudo foi uma escolha consciente. Mas eu simplesmente não era visto. As pessoas passavam por mim e não era realmente como se nos tocássemos. Claro. Um de nós não estava realmente ali para ser alcançado.

Acordei, estudei, trabalhei e dormi por muitos dias. Bebi tantos vinhos olhando para o céu azul das 22h no Mediterrâneo quantos meu paladar foi capaz de receber antes de criar taninos próprios. Nenhum tão bom quanto os que em vida.

Agora me parece ligeiramente sinistro falar assim como se agora tivesse morrido. É que eu conheci uma vida e desde aquela porta nada mais se pareceu com isso...

A santidade nunca me caiu bem. Penso, inclusive, que foi como fiz para sobreviver – não exclusivamente agora; sempre. Daí o instinto de estar não com uma, mas outras pessoas. Às vezes ao mesmo tempo, porque não me tomava nada. Noutras, apenas durante o mesmo período. Mas quando tudo parecia ir bem, o barulho da porta batendo pela manhã me transportava imediatamente aonde. Degustei o tanino do vinho apurando em outras bocas, mas, por fim, nunca consegui ir além da carne. 

Aos poucos, cada passo à frente tomava mais claramente a feição de um resgate do que renunciei para estar ali. Toda tentativa de me restabelecer manhã à fora transfigurava-se numa repuxada violenta de nostalgia e saudade bruta quando a noite tardiamente caía.

Eu precisava ir embora.

Quando isso me ocorreu pela primeira vez tomou-me de forma tão sorrateira que sequer surtei com o impropério. Mais tarde, quando me dei por mim, já comentava em voz alta a intenção com colegas que, por alguma razão sombria, não notavam que eu já estava morto. Como a ideia de viver poderia lhes parecer tão absurda? Comecei a questionar internamente suas intenções sem me determinar em nada. Àquela altura, não ouvir o que me diziam as pessoas me parecia natural ante a decomposição gradativa do meu corpo. Para que serviriam os ouvidos ante a falência irreversível de uso do meu coração?

Alguém deve ter ficado muito preocupado com esse papo necrótico quando, a pretexto de me animar, aceitei um convite de vinho branco à praia – apelativo, convenhamos. 

Estávamos num trem em direção à Tortosa quando começamos a contornar o mar. Pelas razões mais óbvias, não culpo o autor do convite. Como saberia, afinal, que exatamente neste momento eu terminaria de morrer? 

O sol cintilava a água de um azul quase escuro enquanto dentro de mim tudo se apagou. Senti pequenas reações elétricas salteando meu corpo e algumas manchas brancas despontaram à frente de meus olhos. O sol e o mar continuavam lá fora. Me encaravam, reunidos nesta cena, numa expressão limítrofe entre o deboche e a descrença em mim. Um arrepio atravessou minhas costas quando o que parecia ser o último ar da Terra debandou de meus pulmões. Os quadros da praia percorrendo as janelas à medida em que o trem avançava. E cada vez mais rápido até que tudo se apagasse do lado de fora também.

Agora sentado nos bancos de alguma estação de trem no meio da Espanha, cercado de pessoas que até hoje não sei quem são, eu apenas disse que precisava ir. 

Agora era de precisar, você entende? O ar havia voltado e, por ora, cooperava entrando e saindo de meus pulmões como peristáltico que deveria ser. Mas até quando? Me parecia a última chamada. Precisei, em morte, morrer por uma segunda vez para entender o que sabia desde que comecei a narrativa. Isto não era vida. Se era para alguém, não era para mim. 

Por alguma razão, desfazer tudo e partir de uma hora para a outra parecia muito mais complicado do que chegar e começar de um dia para o outro. Por isso, simplesmente peguei uma blusa para o voo gelado e parti. Não conseguia recordar ou me determinar pelas consequências do que viria a ser considerado um abandono. Pois bem, para abandonar é preciso estar vivo. E assim preferi. A vida.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A primeira


– Liga o carro, engata o D e acelera. E freia. Só isso.
– Não precisa fazer mais nada? 
– Não. É tudo automático.
– Eu não sei dirigir esse carro.
– Como não? É mais fácil que o manual.
– Eu não sei. Eu sinto impulsos que não se aplicam. Vontades que não cabem. Acho até que pratico prevenções para inseguranças que não têm razão de ser aqui e
– Presta atenção no que você está fazendo. Vai abrir o farol.
– Eu sei, eu estou vendo.

Dirigiu por alguns metros, acelerou com confiança. Parecia certo o que estava fazendo.

– Isso nem é dirigir. É tão fácil.
– E precisa ser difícil pra ser dirigir?
– Ah. É que isso aqui qualquer um faz.
– Hum. Não pode ser pra qualquer um? Precisa ser difícil pra ser bom?
– Você não acha que o esforço deposita algo de honroso nas coisas que a gente faz?
– Não acho. Acho só que a gente cansa mais. E aí cria essa pseudo honra pra justificar o sobre-esforço. Do contrário, seria apenas como parecer um fraco incomodado em ter que fazer força. 

Dirigiu bem até precisar parar: os pedais se confundiram por sob seus pés e freou bruscamente na tentativa de acionar uma embreagem que não existia. Foram imediatamente lançados para frente. Quando contidos pelos cintos de segurança. Presentes em carros manuais e automáticos.


– O que aconteceu?, ele perguntou assustado.
– Eu esqueci que não tem embreagem e meti o pé.
– Tudo bem. Não vinha ninguém atrás.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

– Não faz sentido que ela seja a última mulher que eu amei.

Este pensamento a deixava desgostosa. Seria inadmissível. 

Eu explico.

Depois que romperam – e romperam porque a moça a deixou com o coração em frangalhos simplesmente por ser o que era (ué!) –, ela aprendeu que o erro tinha sido seu. Todo seu. Claro, claro. Cada uma com a responsabilidade por si mesma pelo o que foi à outra, afinal por muito tempo foram um casal romântico. Mas a responsabilidade pela dor dilacerante que sentia era sua, toda sua. Porque entregou justamente este poder àquela mão de dedos longos, macios e quentes. Nossa heroína permitiu que o amor que sentia fosse travestido duma paixão doente, como uma roseira crescendo sem qualquer domínio, envolveu seu coração em espinhos nos quais tocava simplesmente por bater. Uma paixão por meio da qual a razão de viver se transferia à existência do outro – e aqui vamos assinalar que esta era sua prática, um privilégio concedido a toda e qualquer uma que cruzasse o caminho do seu coração nascido para amar. Por muito tempo, chamou isso de intensidade. Mas o que estou repisando é: a responsabilidade era sua. Foram suas escolhas. 

Foi assim que, por mais aquela vez, permitiu-se sentir pela moça um amor vívido, exagerado, literário, que a fazia sentir que seus sonhos podiam esperar para que vivessem – não somente, mas primeiramente – os de sua amada. Ou, quando muito, os do casal.

Nossa escafandrista mergulhou, por acreditar, é claro, num amor que a deixava de joelhos, cuja alternativa era perder o ar. E por isso, quando romperam, observamos, nós, leitores, uma quebra total de paradigmas. Porque, vejam, ela realmente sentia como se abandonasse tudo naquela travessia. Mas não perdemos realmente coisas que nunca possuímos, não é mesmo?

Foi quando percebeu que a dita razão de viver nunca poderia voltar a ser outra pessoa que não ela mesma. Foi o gradual insight de notar que nunca mais poderia, tampouco deveria, viver tão apaixonada a ponto de querer morrer de amor. Isto porque já não seria capaz de se doar ao nível – abaixo do nível do mar este nível – de não ser sua própria alegria de viver. Não seria mais capaz de entregar ao outro a chave de realização de seus sonhos, projetos, devaneios, caprichos. E foi assim que, mês a mês, na calada de cada noite que a embalava em sono cada vez mais pacífico, foram esvaziando-se o sonho do matrimônio por amor, da família porto seguro, da esposa companheira, do levantar de um império de poder para que o tivessem para carregar as crianças quando chegasse a hora de deixar apenas o nome. Houve, como diria a ponta do triângulo, um acréscimo de si mesma. E sentiu-se imbuída de uma leveza tão estrangeira e nada familiar que demorou muitos minutos para perceber que agora poderia ser e fazer o que quisesse, assumindo que era permanentemente a única para quem daria qualquer satisfação ou informe. Especial, talvez exclusivamente, do ponto de vista espiritual.

Não mais teria condições de se apaixonar em nível tão docemente baixo e doente. Não mais sentiria o êxtase inegável do crack da paixão. E uma parte de si ressentia-se com isso, como uma adicta em reabilitação – “Eu sou”, ela diria se nos estivesse ouvindo –: o tratamento é voluntário, mas sempre haverá em riste uma porção em resistência. Fosse doutro modo, não seria vício!  

E esta parte, esta pequena, subversiva e revolucionária parte, dentro dela, em muitos pontos revolta por não mais poder gozar do que aprendeu como amor, naufraga, ainda agora enquanto falamos, no pior ressentimento possível, qual seja o de perceber que seu último e, portanto, grande – para não dizer maior – amor seria efetivamente aquele que menos o mereceu ter sido. O que, por definição, seria um manifesto equívoco de nossa heroína, vez que tamanha entrega jamais teria sido com quem não a despertasse... E, bem... Ela sabe disso.

Por estas razões de serem todas, é que nos dias mais atuais pensava que somente poderia voltar ao território de um relacionamento amoroso quando o contrário fosse impossível. Sentia como se o próximo amor estivesse condicionado à uma noção de irresistibilidade. Sentia mesmo que só renunciaria ao tesouro da solitude descoberta quando a companhia do outro recobrasse o signo de irrenunciável.

Mas isto não mais aconteceria, certo? Se agora ela sabia que nada além de si poderia cobrar tão alto valor. Se tivesse que esperar o amor do outro fazer-se indispensável à própria vida para poder vivê-lo, isto significaria que não amaria nunca mais.

E propriamente aí reside a causa mestra de seu ressentimento. Lhe parece agora bastante óbvio que nunca mais voltará a amar.

– Meu caro olho que me lê. O que sente nossa heroína deve-se ao fato de que o amor que aprendera não o é. Nunca foi. E embora ela não sinta assim  não neste capítulo, advirto , não há causa para ressentir este grande presente. Ela está a um passo do amor que jamais pensou haver neste plano. E este, sim, a fará derreter no deleite que há muito desconfia existir apenas dentro de si. Há o genuíno e estranhamente leve amor para viver...  

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Proposal

Eu não sei mais. Quanto tempo faz que a desejo vigorosamente em minha cama satisfazendo e tendo satisfeitas as necessidades carnais mais absurdas. Mas é assim, e já há tanto tempo que não sei dizer. 

Eu a vejo quando chegamos e a sigo com os olhos quando nos despedimos. Deus sabe lá por que, mas nossos caminhos nunca se cruzaram nem coincidiram. Então, nunca pude acompanha-la ou puxar qualquer assunto.

Ela me cumprimenta com um beijo no rosto. Mas seus olhos, ah, seus olhos me alcançam muito antes dos seus lábios. Eles me laçam, me arrebatam e, até que sua boca me beije as bochechas, o amasso que travo com seu olhar é algo erótico. Para mim, é claro. Ela está inocentemente sorrindo para mim com aqueles olhos brilhantes. Chega a parecer um desenho animado japonês, com aqueles belos olhos pretos e brilhantes. Eu tenho pra mim que eles não brilham para mim. Quantas vezes não ouvi as pessoas elogiando seus olhos...

Eu não sei por quanto tempo a amo. Sim, eu a amo. Não lembro também quando decidi que a amo. Mas me pareceu que esse sentimento combinava melhor com o que eu sentia – sinto! Melhor do que encantamento, fascínio, atração, queda. Eu estou apaixonada por esse par de olhos.

E eles me veem. Me tocam antes dos lábios. E os lábios me dizem: nossa, como você está bem! Está linda! O que fez de diferente?

Eu acho que me fundo pra dentro de mim quando ouço esses elogios. Eu não sei o que fazer com eles. Onde guardo essas palavras pra me deleitar com elas daqui a cem anos? 

Eu apenas sorrio de canto. E a olho no ímpeto de descobrir o que esses elogios querem dizer. Será que me dizem apenas o que falam ou querem dizer algo que somente eu entenda?

Se for alguma espécie de brincadeira, é muito de mau gosto. Porque eu estou caindo como um pato. Semana a semana, eu a encontro e meu coração se espreme todo, sinto que fica vermelho, enrubescido de vergonha.

Eu me naufrago na expectativa de um dia ela acordar louca e me beijar na boca quando me encontrar. Nessa fantasia, eu a beijo descontroladamente dando tudo o que estou represando no peito. Na verdade, sei que se ela me beijasse, eu a chamaria de louca e daria as costas.

Eu definitivamente não estou preparada pra ver meu sonho mais íntimo tomando forma diante de meus olhos.

É absurdo. 

Eu a desejo, eu a amo, eu a odeio quando sorri com aqueles olhos de anime pra todo e qualquer um que cruze o seu caminho. Ela é esse tipo de pessoa encantadora que está disposta a exalar amor para desconhecidos como quem exala feromônios.

Eu a detesto por isso. Porque uma parte obcecada e psicopata de mim a deseja veementemente só pra mim. Tem vezes que deliro que a sequestro e ela adora... 

Hoje de manhã acordei e me lembrei do sonho que tive com ela e confesso que considerei nem levantar da cama. Eu devo ser alguma espécie de monstro que arrisca a incolumidade pública. As autoridades me prenderiam se soubessem quanto eu quero essa mulher.

Eu jamais a machucaria. Se ela pedisse, talvez. Uns belos tapas costumam deixa-la ainda mais descontrolada nos meus sonhos.

Mas eu levantei. 

Nos encontramos, e sucederam os olhos, os lábios que laçam, meu sorriso torto, o coração espremido, minhas fantasias sexuais de armário e, por fim, um indescritivelmente inesperado convite pro café.

Pela first fucking time, os olhos me olhavam com olhos individuais. Quase como se tivessem sido arrancados da órbita craniana pra olhar pra mim, só pra mim. Pra me ver, pra me enxergar, pra me cercar. 

O milagre em cascata foi quando ela elogiou meu sorriso. Não é que eu estava “bem” ou “linda” nem nada tão genérico que ela precisasse transferir a resposta ao me perguntar o que eu fiz de diferente. Não. Meu sorriso era lindo. 

Eu aceitei o café. E sem meia explicação, ali estávamos nós trocando confidências e visões de vida como se já conversássemos por telefone madrugadas a fio.

Ela me conhecia. Por alguma razão cósmica, ela entendia o que eu dizia e nos dávamos estranhamente bem. Ela tinha anseios e desejos tão profundos sobre a vida, ou simplesmente tão bonitos, que ainda que eu não os tivesse, teria. Pelo deleite de acompanha-la, de tê-la. 

Aqui, sentada na minha frente, gesticulando quase nada enquanto fala, seu cheiro é acessível, quase nada onírico e, mesmo assim, eu pularia em cima de você sem nenhum esforço.

Nos beijamos. 

Foi estarrecedor. Como a harmonia universal que há quando duas peças opostas se encontram e encaixam depressão e relevo: sem esforços, sem falhas, sem os excessos do forçado. Simples como o natural.  

Nem em um milhão de anos o sexo dos meus sonhos chegaria aos pés do que fizemos minha cama passar. E talvez fosse necessário alguns milênios sonhando com ela pra imaginar o grau de sadomasoquismo ao qual ela estava disposta. 

Em alguns meses nos apaixonamos. 

Ela invadiu o porta-retratos da minha cabeceira de cama. Apareceu dentro da minha carteira, numa foto linda de morrer que me encara toda vez que vou pagar alguma coisa – e acho que passei a gastar mais depois disso. De repente, era ela ocupando a imagem de fundo do meu celular e, por mais cafona que pareça, do meu computador também. 

Eu estava irremediavelmente apaixonada e disposta a ir às últimas consequências desse estado mental virulento chamado paixão.

Em alguns meses, passamos a dormir juntas todas as noites. 

Em mais alguns, eu me desfiz de todas as lembranças de amores antigos. 

Eu estava pronta pra concluir essa área da minha vida. E não havia razão para não estar. 

Era tão incrível como nada que eu fosse capaz de sonhar na vida.

Era um domingo de sol quando acordamos às 11h da manhã. Nossos corpos completamente nus ainda se entretocavam e a consciência que se aproximava com o despertar trazia o contentamento de perceber a presença uma da outra.

Eu me levantei e caminhei plena de paz até o banheiro. Me olhei no espelho, esperando possivelmente encontrar uma mulher destruída pelo sexo animal noturno e tudo que vi foi um sorriso ridículo impregnado no meu rosto. Nada muito largo, mas notadamente lá. Me fez perguntar por onde andaria aquele outro, torto e de canto, que eu já não via há meses.

Estávamos na mesa, o café posto, o apetite tinindo, quando ela perguntou. 

De pronto, eu achei tão absurdo que pensei que fosse alguma piada, razão pela qual eu tratei logo de rir. Até perceber que não. Era sério. Era uma pergunta séria, uma proposta intencional e enviesada. Ela realmente queria saber.

Eu me arroguei da gravidade daquilo tudo e respondi que não. Mas é claro que não!

Os olhos dela não me entendiam, me olhavam como se eu fosse algum tipo de extraterrestre, como eu poderia não querer, afinal?

Eu disse que não. E que não era algo negociável. Que, aliás, era o maior terrorismo que ela poderia me fazer num domingo pela manhã. 

Foi como se alguém arrancasse o chão dos meus pés, porque de um instante para o outro não havia nada em que eu pudesse me agarrar.

Eu poderia ter dito que tudo bem. Eu poderia ter engolido seco, jogado um café preto em cima e ter ido correr no parque para aliviar a tensão que impregnou o ar. 

Mas é claro que eu não fiz nada disso. Ainda hoje eu não acredito que ela considerou me pedir uma coisa dessas.

Eu pedi que ela fosse embora. E pedi que levasse suas coisas.  

Ela poderia ter resistido, desistido do impropério e até fingido que não era o que ela quis dizer. Melhor do que isso, ela poderia ter implorado pelo meu perdão, mudado de ideia e lutado pra me convencer de que ainda era alguma coisa com valor pra mim.

Mas isso não seria muito diferente de se vender, não é mesmo? 

Ela pegou o que pôde e deixou para trás o que não lhe importava. 

Nunca mais nos vimos, nunca mais nos falamos. 

segunda-feira, 30 de julho de 2018

O que você disse eu não gravei

– Você não entende. Eu sinto falta de estar apaixonada. Eu sei que a paixão é doentia, insustentável, que precisa dar lugar ao amor pra relação florescer e se tornar duradoura. Mas, velho, pular a paixão também não dá. Como é possível iniciar algo sem aquele prelúdio de encantamento bestial, se é justamente isso que nos lança a querer a próxima fase? Como é possível ir direto à parte madura, a que exige mais de nossas concessões e renúncias, sem, antes, explorar a perda da noção de si próprio em nome do prazer que se torna o bem estar do outro? 

[...]

– Eu sei, eu estou toda errada. O amor, o amor bom, é a coisa morna. Tranquila e segura... Eu sinto falta de estar apaixonada, ok?! Sinto falta da sensação de mundo inteiro que dá. Do poder, dos hormônios de prazer inundando meu sistema nervoso da sensação de posso o que eu quiser. Eu sinto falta. Até da porra daquela ponta de insegurança eu sinto falta, acredita? Daquela pulguinha quase invisível e eventual atrás da orelha me perguntando se eu sou o bastante pra um amor tão incrível e arrebatador. Ridículo...

[...]

– A porra do sexo fica comprometido. Eu achei tão diferente. Diferente de quando eu fazia querendo laçar a pessoa pro resto da vida, sabe? Esse lance de estar em paz com seja lá o que vier te deixa tão sossegado de de repente a pessoa não querer ficar que até o sexo não te (me?) demanda mais a mesma dedicação. Acho que eu transava melhor quando inconscientemente acreditava que precisava dar tudo pra pessoa não querer ir embora...

[...] 

– Eu sei, eu sei. É ridículo. Estou manifestando falta de um modo indigno de vida que eu optei por consciência a abandonar. 

[...]

– Talvez não precise ser assim... Talvez só não seja a pessoa certa ainda! [...] Não existe pessoa certa, né? A pessoa certa sou eu, o resto do mundo é só um amontoado de tentativas de corresponder afinidades. Penso que posso sentir paixão e depois o amor. Penso que não há proibição. Até lá, eu vou manter meu coração batendo por mim. E quando eu me apaixonar, também.

con facilidad

yo me siento una persona simple con usted. yo me sinto revelada. yo no me siento como un rompecabezas frustrante que desalienta al jugador. yo no me siento una fuente de exigencias masacrantes y castradoras  que te obligan a fingir ser quien no eres. en su presencia, yo me siento vista y visible. usted simplemente es y hace lo que me suena agradable  sin la nulidad que es que te diga. yo no necesito buscar en el ego lo que hay de bueno en ser imprevisible. no. usted me hace sentir previsible y ya no necesito la adrenalina que hay en los desencuentros. porque usted me hace sentir simple. parece que usted conoce todo por aquí sin la necesidad de haber navegado las profundidades del mar agitado que otras tormentas me hicieron parecer ser.

entonces, ¿por qué no me parece ser todo?