Páginas

sábado, 27 de novembro de 2010

Você já se apaixonou por uma estrela?

Ou por qualquer outra coisa que não pode ter? E que não deveria querer? E que não é certo? E que é errado? Ou que simplesmente não pode e ponto? Sem explicação, assim mesmo. Não pode. Você já? Já se apaixonou por uma estrela? E esperou que todos os dias fossem noites só pra vê-la brilhar? Implorando que a luz se perdesse logo para que ela pudesse se mostrar do jeito que nunca deveria deixar de ser? Você já? Desprezou a luz do sol? Se ofendeu com todas essas lâmpadas e velas de brilhos falsos? Preferiu ficar no escuro a se iluminar por qualquer outra faísca que fosse? E passou noites sem piscar os olhos só pra ver sua estrela piscar? Mas, mesmo assim, teve medo de que, se piscasse, se apagasse e não brilhasse mais? E já sentiu revolta e raiva por ter que esperar o dia ir pra poder ver aquela por quem você não sabe esperar? Você já pensou que todas as noites são pequenas demais? Todas elas juntas! Pequenas demais. Você já se apaixonou por uma estrela e por amá-la soube agüentar todas as claras horas que separam vocês? E já se perguntou como podia ter certeza de que aquela, justo aquela!, era a estrela certa? Era a sua estrela? E como fazia pra não perdê-la? E pra encontrá-la? E pra acreditar que ela brilhava pra você? Pra acreditar que, mesmo ao brilhar em outro céu, era por você que ela brilhava? E, dessa vez, como fez pra não deixar a Lua com ciúmes? Como fez pra ela não pensar... Bem, as coisas que qualquer um pensaria? E o que disse às outras estrelas? E o que fez com estas, outras menos afortunadas, para que não se atrevessem a, ao menos, tentar ofuscar a estrela que era tua? O que fez? O que disse aos terráqueos que não acreditaram no seu amor? Você não se importou com eles? Sabia que o foco era uma coisinha brilhante e que era esta que deveria ocupar seu tempo e toda atenção de suas palavras? Que era esta que já não ia se apagar? Sabia que muitas outras tinham se apagado e se convertido num abismo de escuridão? Mas que a sua...
Você já se apaixonou por uma estrela? Eu não.

Conversa de um.


Tinha pensado em algumas palavras. Palavras que eu não posso dizer. Não! São palavras que eu não devo pensar... O que eu faço? Calo e restrinjo minha sanção... À própria moral?
- Que moral? – Cutucou, sarcástico.
O que fazer então com todas aquelas palavras eu não sei. E se eu escondesse que a última coisa que eu pensei antes de dormir era que você é a última coisa que eu penso antes de dormir? E então se eu negar que todas as gotas confusas da chuva, não importa em que ritmo caiam, sempre, aos meus ouvidos, estão sussurrando seu nome, me ajudando a clamar por você? E então se eu fingir que minha memória olfativa suportaria esquecer a essência do perfume que é teu, ainda que senti-lo faça com que esse corpo beire a perda do controle que tanto aprecia beirar? Se eu fingir que não me inebria? Que me faria cair em sono profundo, se, na verdade, não me dispusesse a maior das disposições? E se ao invés de não dizer, não pensar, esconder, negar, fingir, eu realmente não sentir estas coisas imorais? Será que, no fim, isto seria amar menos você? Será que me confundiria em meu próprio personagem? Será que, em algum lugar de mim, não estaria eu mesma te amando como se tudo de mais livre fosse?
- Mas quantas perguntas... – Comentou num tom cansado para que eu não o obrigasse a responder.