– Liga o carro, engata o D e
acelera. E freia. Só isso.
– Não precisa fazer mais nada?
– Não. É tudo automático.
– Eu não sei dirigir esse carro.
– Como não? É mais fácil que o
manual.
– Eu não sei. Eu sinto impulsos que
não se aplicam. Vontades que não cabem. Acho até que pratico prevenções para
inseguranças que não têm razão de ser aqui e
– Presta atenção no que você está
fazendo. Vai abrir o farol.
– Eu sei, eu estou vendo.
Dirigiu por alguns metros, acelerou
com confiança. Parecia certo o que estava fazendo.
– Isso nem é dirigir. É tão fácil.
– E precisa ser difícil pra ser
dirigir?
– Ah. É que isso aqui qualquer um
faz.
– Hum. Não pode ser pra qualquer um? Precisa ser difícil pra ser
bom?
– Você não acha que o esforço
deposita algo de honroso nas coisas que a gente faz?
– Não acho. Acho só que a gente cansa mais. E aí cria essa pseudo honra pra
justificar o sobre-esforço. Do contrário, seria apenas como parecer um fraco incomodado em ter que fazer força.
Dirigiu bem até precisar parar: os
pedais se confundiram por sob seus pés e freou bruscamente na tentativa de
acionar uma embreagem que não existia. Foram imediatamente lançados para frente. Quando contidos pelos cintos de segurança. Presentes em carros manuais e automáticos.
– O que aconteceu?, ele perguntou assustado.
– Eu esqueci que não tem embreagem
e meti o pé.
– Tudo bem. Não vinha ninguém
atrás.
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