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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A primeira


– Liga o carro, engata o D e acelera. E freia. Só isso.
– Não precisa fazer mais nada? 
– Não. É tudo automático.
– Eu não sei dirigir esse carro.
– Como não? É mais fácil que o manual.
– Eu não sei. Eu sinto impulsos que não se aplicam. Vontades que não cabem. Acho até que pratico prevenções para inseguranças que não têm razão de ser aqui e
– Presta atenção no que você está fazendo. Vai abrir o farol.
– Eu sei, eu estou vendo.

Dirigiu por alguns metros, acelerou com confiança. Parecia certo o que estava fazendo.

– Isso nem é dirigir. É tão fácil.
– E precisa ser difícil pra ser dirigir?
– Ah. É que isso aqui qualquer um faz.
– Hum. Não pode ser pra qualquer um? Precisa ser difícil pra ser bom?
– Você não acha que o esforço deposita algo de honroso nas coisas que a gente faz?
– Não acho. Acho só que a gente cansa mais. E aí cria essa pseudo honra pra justificar o sobre-esforço. Do contrário, seria apenas como parecer um fraco incomodado em ter que fazer força. 

Dirigiu bem até precisar parar: os pedais se confundiram por sob seus pés e freou bruscamente na tentativa de acionar uma embreagem que não existia. Foram imediatamente lançados para frente. Quando contidos pelos cintos de segurança. Presentes em carros manuais e automáticos.


– O que aconteceu?, ele perguntou assustado.
– Eu esqueci que não tem embreagem e meti o pé.
– Tudo bem. Não vinha ninguém atrás.

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