É engraçado
quando a gente acha que as coisas estão fora do lugar e tenta remanejar tudo
para uma posição mais adequada, mais coerente, mais rentável. Por vezes, a
comicidade acaba em perceber que aqueles lugares errados eram os certos. Que os
lugares errados eram onde deveriam estar coisas que já não estão.
É como tentar
reprogramar uma vida que sempre percorreu seu curso natural. Mesmo que esse
curso fosse o contra fluxo, a contramão. E, então, quando finalmente você muda
os móveis de lugar e passa acreditar que agora sim, ufa, estão dispostos como
sempre deveriam ter estado, alguma outra coisa acontece. Algum outro vento ou
até mesmo a maré de antes vem empurrando todas as coisas para os lugares
antigos. E agora? Permissão ou recusa? Progresso, regresso ou estagnação?
Eu nunca
repeti tantas vezes a frustrante frase “não sei.” É uma coisa que ensandece.
Quando você desacredita de tudo aquilo que pregou a vida toda. Quando refuta
seus próprios argumentos. Quando se desilude do mundo e, por que não?, de você
mesmo. Todas as coisas caem por terra. Qual delas tem sentido, afinal? Qual
delas te prende aqui? Por qual vale a pena lutar e aguentar mais um pouquinho
todas as outras?
Não ter uma
resposta óbvia pra essas perguntas ou ter uma resposta parecida com “nenhuma” é
um limite muito perigoso pra se beirar. E eu não só o beirei subitamente –
subitamente? -, como o quis atravessar com a maior das convicções.
Loucura.
Isso de fugir
de si é perigoso quando dá certo. Mais perigoso ainda é simplesmente se perder.
As vozes e as cores perdem o tom. A melodia que te guiava perde o som. Você mal
tem o discernimento pra dizer o que é bom.
Quero dizer:
capaz de se abandonar você é. Mas pra se encontrar, vai precisar de alguém.
Como eu precisei. E tive. Pois é mesmo como dizem: quando você menos merece, é
quando mais precisa.
Me aconteceu
o que eles chamam na literatura de momento epifânico. E, uau, eu já nem
lembrava que tinha o órgão responsável por essa sensação.
Eu abri a
porta do quarto e uma onda de calor me engoliu: a janela fechada. Fiquei
furiosa e, quando acendi a luz, atônita. Uma outra onda me engoliu.
Fotos,
bilhetes e lembretes tinham engolido meu quarto. E agora me engoliam. Eu
mal sabia pra onde olhar. Reconhecer as letras e, por sua vez, o mentor da
minha ressurreição oficial foi a abertura de um estado de choque, onde eu
simplesmente não conseguia falar, e o desfecho de uma fase tardia. Meus olhos
se encheram de lágrimas mais uma vez, quando tão cheios dos nossos sorrisos
naquelas fotos todas. Eu pulava de uma foto à outra, aos textos e pensava “Meu
deus. Não acaba.” E internamente agradecia por isso. E vibrava com as lágrimas,
aos poucos, transformadas em riso, que aquilo se multiplicasse eternamente.
Já era alheia
demais à Amanda do domingo. Já era alheia demais ao pensamento de renúncia que
quis abandonar cada uma daquelas coisas tão minhas. Já sou alheia demais - de
novo e graças! - à Amanda que não acredita no amor. Mas também... Seria um
eterno erro esperar que as pessoas erradas me fizessem acreditar.
Obrigada por
me darem a certeza do meu lugar. Quero dizer, por me fazerem lembrar.
L i s t e n i n g
Um dia perfeito – Legião Urbana
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