Eu diria que chegou a ser engraçada a forma como os fatos se relacionaram; mas quando o assunto morte envolve-se a qualquer outro, não há como julgar nada engraçado. A verdade é que nem sério se encaixa. Talvez o termo seja triste mesmo. Eu não sei. O que me invade é a inconformidade. Inconformidade com a morte. Ah, sim... A ironia:
Terça feira comecei a ler A Cabana, um livro de ficção que fala, em suma, sobre Deus. Um enredo, onde um homem perde sua filha caçula, Missy, para um possível assassino em série de meninas, do perfil da garotinha. Com o desaparecimento e morte da filha, Mackenzie, o pai, se vê bombardeado por dúvidas e questionamentos. Apontando em Deus, erros e falhas, como permitir a morte sem sentido, sem culpa, de sua tão amada filha.
Aí é que está. Achei irônico. Estar lendo um livro com essa temática e um caso de morte sem sentido abater-se sobre a família; um assassinato. Numa tarde comum, você sai até a rua, procurando sua mãe. E a encontra. Estirada no chão. Perfurada na cabeça, no peito. A menina segura o corpo da mãe, pelos braços. E implora: ‘Mãe, levanta! Levanta, mãe!’.
Será que a intensidade do pedido causada pela dor da filha, agora desolada, teve alguma serventia? Será que comoveu Deus? Será que os gritos foram tão altos que a mulher pôde levantar-se do sono da morte e refugiar-se em casa? Não. Não pôde.
Não me levem a mal. Não estou querendo cutucar as crenças dos outros. Nem incitar o questionamento de se Deus existe. Ou ainda como ele, mergulhado em seu amor genuíno de pai, pode permitir a morte fria de seus filhos. Desculpem. Mas a verdade é que eu não sei o que estou querendo. A morte me abate de uma maneira. Eu fico... Lesada.
Bom, o livro justifica essa permissão no fato de esse ser um mundo que não está, de fato, nas mãos de Deus. E, como eu já estudei sobre esses conceitos, compreendo essa visão.
Mas perder é uma coisa tão inaceitável. A morte dá um desespero. Ainda que seja o descanso eterno. Ainda que quem morra esteja melhor do que quem vive nesse mundo onde nos sujeitamos ao risco de morrer inconseqüentemente, todos os dias. Eu preciso crescer. Mas não sei se crescer me permitirá aceitar melhor esse tipo de perda. E, agora, isso causa tanta confusão na minha mente. Como se não bastassem minhas próprias dúvidas, isto é, as que já cultivo.
Deus. Vida. Morte. Justiça? Impunidade. Consciência? Direito. De que me adiantará persuadir em nome de quem quer que seja? Não vou ressuscitar ninguém.
Eu queria entender. Ou não. Talvez, eu já entenda. O que me falta, hein? Deus? Pode me responder? Sinto respostas que só podem ter vindo de mim. E eu vou terminar essa leitura e discutir comigo mesma tudo o que me vier à mente. Mas e depois? Será que eu vou estar... Conformada? E eu nem sei se quero ser conformada. Percebi que hoje não tenho convicções. Sou dúvidas. E, portanto, não sei nem como terminar.
LUTO. Lena, você não foi perfeita - Quem é, afinal? -, mas deixou uma filha, sua mãe e seus familiares que com certeza, independente de suas imperfeições e qualidades, sentirão sua falta; e já a sentem. Não, você não pode me ouvir, nem acessar meu blog. Estou falando comigo mesma. Ou será que Deus está me ouvindo? Mais uma vez: eu não sei.
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